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Startups do Cine/Unicamp avançam em soluções de energia limpa, de baterias de sódio a painéis solares de perovskita

Baterias de sódio com materiais nacionais, sensores portáteis para biogás, redes inteligentes de recarga para veículos elétricos e painéis ultrafinos de perovskita que funcionam até sob luz ambiente estão entre as tecnologias que despontam na nova geração de startups ligadas ao Centro de Inovação em Novas Energias (Cine), sediado na Unicamp. O Cine conta com o apoio do Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro), que colabora na agenda de tecnologias para a transição energética.

As startups têm em comum o foco em reduzir dependências externas, baratear processos e criar alternativas viáveis para a transição energética – da fabricação de baterias ao monitoramento de biogás, passando pelo armazenamento distribuído e pela geração solar.

BATERIAS DE SÓDIO – A Cath Energy desenvolve materiais ativos de cátodo para baterias de sódio como uma alternativa promissora às baterias de lítio, hoje dominadas pela China. O diferencial está em uma rota produtiva baseada em minérios nacionais de manganês, ferro e sódio, com uso de materiais reciclados e sem geração de salmoura residual.

Além de reduzir em até 95% as emissões de CO₂ na fabricação, a tecnologia oferece vantagem econômica significativa, já que o sódio é muito mais abundante e barato que o lítio, e pode ser obtido com insumos locais, eliminando a dependência de importações e reduzindo custos logísticos e cambiais.

A startup já opera em nível de maturidade tecnológica TRL-4 e, até 2027, planeja instalar um piloto de 10 kg/hora, capaz de produzir material suficiente para 155 MWh/ano, e iniciar a industrialização em 2028. O modelo de negócio prevê parcerias com mineradoras e recicladoras, com foco inicial na exportação para Estados Unidos e Europa, onde cresce a demanda por cadeias produtivas mais sustentáveis e menos dependentes da China.

ARMAZENAMENTO DE ENERGIA – Já a Future Flow busca democratizar o armazenamento de energia no campo, apostando em baterias de fluxo à base de chumbo. A tecnologia foi desenvolvida para uso estacionário em propriedades rurais, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde as oscilações de energia são frequentes.

Diferentemente das baterias de lítio, o sistema usa um único canal de fluxo, eliminando o uso de membranas separadoras – um componente caro das baterias convencionais. Com isso, a tecnologia reduz custos, é mais segura e escalável, e aproveita uma cadeia de reciclagem de chumbo já consolidada no Brasil. A empresa, em TRL-4, estima um investimento de R$ 1,5 milhão até 2028 para chegar ao TRL-7 e iniciar a implantação em fazendas no início da próxima década.

MONITORAMENTO – A BF Sense desenvolveu um sensor portátil e uma plataforma digital capazes de medir a composição e a pureza do biogás diretamente nas unidades de produção. O dispositivo oferece uma alternativa de baixo custo e alta escalabilidade em comparação aos cromatógrafos convencionais, que são caros e restritos a laboratórios.

Com essa solução, o monitoramento deixa de ser uma etapa onerosa e passa a ser parte do próprio processo produtivo. A tecnologia, integrada à internet das coisas (IoT), permite que empresas e produtores acompanhem em tempo real a eficiência da geração de biogás e otimizem o aproveitamento energético dos resíduos.

A startup busca R$ 500 mil em investimento para concluir a fase de validação em campo e aprimorar o software de análise, o que permitirá monitoramento remoto multigás e relatórios personalizados.

RECARGA PARA VEÍCULOS – Já a Recarregue desenvolveu uma rede inteligente de recarga rápida e armazenamento distribuído, capaz de operar mesmo em locais sem infraestrutura elétrica consolidada. O sistema combina baterias estacionárias, geração renovável e comunicação em rede (smart grid), além de oferecer uma experiência simplificada de uso – recarga via tag, sem necessidade de aplicativo.

A primeira fase do projeto, submetida a edital da Finep, prevê investimento de R$ 14 milhões para instalar 20 eletropostos entre São Luís e Salvador, conectados por um corredor energético autônomo. O plano de expansão prevê alcançar 400 estações e 80 MWh de armazenamento distribuído até 2035, com faturamento projetado de R$ 100 milhões por ano.

PAINÉIS SOLARES – Já a Soluz se destaca com o desenvolvimento de painéis solares ultrafinos de perovskita, um material semicondutor de nova geração capaz de gerar eletricidade a partir da luz ambiente, inclusive de lâmpadas internas. Essa tecnologia permite alimentar etiquetas eletrônicas, sensores e pequenos displays em supermercados, escritórios e galpões, eliminando o uso de pilhas e baterias descartáveis e reduzindo o lixo eletrônico.

O diferencial econômico está em substituir o uso de milhões de baterias de curta duração – que exigem reposição constante e encarecem a operação de grandes redes varejistas – por dispositivos autossuficientes, que funcionam continuamente com a luz do ambiente. Isso reduz custos de manutenção, melhora a eficiência logística e abre espaço para novos modelos de automação mais limpos e sustentáveis.

As perovskitas oferecem três vezes mais eficiência que o silício sob luz artificial e podem ser produzidas e recicladas no Brasil, com 70% de reaproveitamento dos materiais. A Soluz prevê uma planta-piloto em 2026 e entrada no mercado em 2028, mirando inicialmente o setor de automação comercial e varejo, que já adota etiquetas digitais no lugar das de papel.

ECOSSISTEMA – As startups fazem parte do esforço do Cine para aproximar ciência e mercado. “Essas empresas mostram que a inovação também nasce da pesquisa de base. São ideias que surgiram dentro dos laboratórios da Unicamp e do Cine, mas que agora se movem na direção do mercado, com propostas sólidas e potencial real de impacto”, afirma o professor Hudson Zanin, líder do programa Armazenamento Avançado de Energia II.

Fonte: https://ipesi.com.br/startups-do-cine-unicamp-avancam-em-solucoes-de-energia-limpa-de-baterias-de-sodio-a-paineis-solares-de-perovskita/