Últimas Notícias

Múltis do Brasil fazem recuo tático, mas mantêm planos

As multinacionais brasileiras promoveram um recuo "tático" nos investimentos no exterior por conta da crise, mas nada muda nos planos "estratégicos", garantiram empresários e especialistas ontem durante seminário do Conselho Britânico em São Paulo. Os dados do Banco Central apontam um tombo significativo nos investimentos brasileiros no exterior. O saldo ficou negativo em US$ 392 milhões no primeiro trimestre. De janeiro a março, as empresas investiram US$ 2,4 bilhões no exterior, um terço dos US$ 7,3 bilhões de igual período de 2008. E mantiveram a repatrição de capital em US$ 2,8 bilhões.

Conforme estimativa da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o saldo dos investimentos brasileiros no exterior deve ficar em US$ 5 bilhões em 2009, bem abaixo dos US$ 20,5 bilhões do ano passado. Os cálculos da Sobeet mostram que 1.816 companhias brasileiras estão em processo de internacionalização, com atuação em 123 países. Parece muito, mas o Brasil apenas engatinha. Em 2007, último dado disponível, o país representou 0,4% dos investimentos estrangeiros diretos, comparados a 10% dos asiáticos. Em 2007, os países em desenvolvimento responderam por 13% dos investimentos, acima dos 5% de 1990. Para a Sobeet, a crise deve aprofundar essa tendência, já que as economias emergentes foram as menos atingidas.

Algumas empresas, mesmo na crise, focam na internacionalização, porque seu mercado interno está saturado. É o caso da São Paulo Alpargatas, dona da marca Havaianas. No Brasil, são vendidos 850 pares de Havaianas por cada mil habitantes, o que significa que quatro em cada cinco brasileiros compram um par a cada ano. No exterior, a média é de apenas dez pares para cada 100 mil habitantes. Na Austrália, um dos principais mercados da Havaianas, a média chega a cem pares, mas não passa de cinco na Itália, França ou Inglaterra. De acordo com informações apresentadas no seminário, as exportações representam 13,6% das vendas da Havaianas, muito acima dos 1,3% registrados em 1999. Afonso Sugiyama, gerente de produtos internacionais da Alpargatas, disse no evento que a meta é elevar essa fatia para 40%. Com a crise, a Havaianas reduziu os investimentos em marketing no exterior, mas mantém os planos de abrir escritórios em Londres e na Itália.