Setor abre 298 vagas formais e puxa a geração de postos na cidade; comércio também avança, mas serviços registram retração
A indústria de Sorocaba foi a principal responsável pela geração de empregos formais em julho deste ano, criando 298 postos de trabalho, segundo dados do Novo Caged. O desempenho ajudou a cidade a fechar o mês no azul, com saldo total de 388 vagas — resultado de 12.843 admissões contra 12.455 desligamentos. Além da indústria, o comércio também apresentou crescimento relevante, com 262 novas vagas, enquanto os serviços puxaram o saldo para baixo ao registrar 230 perdas.
O setor industrial foi o principal responsável pelo resultado positivo, com 298 novas vagas. Em seguida aparece o comércio, com 262 postos, enquanto a construção civil contribuiu com 60 vagas. Apenas a agropecuária e os serviços apresentaram retração, com duas e 230 vagas a menos, respectivamente.
Para o economista Marcos Canhada, os números não surpreendem e estão em linha com movimentos sazonais do mercado. “O mês de junho costuma ser de encerramento de contratos temporários, especialmente em educação, serviços e comércio. Já julho é marcado por recontratações ou novas admissões para o segundo semestre, com destaque para a indústria e o comércio, que se antecipam para datas como o Dia dos Pais e, mais adiante, a Black Friday”, avalia.
O Diretor Titular do Ciesp Sorocaba, Erly Domingues de Syllos, concorda que a indústria continua sendo o motor da economia local, mas ressalta que esse desempenho é fruto de uma política industrial consistente. “Sorocaba já vem num patamar de crescimento há vários anos, com resultados sempre positivos. Isso mostra a pujança da cidade e é reflexo de um ambiente favorável à atração de investimentos, que envolve desde grandes montadoras, como a Toyota, até empresas de médio e pequeno porte”, destaca.
A força da indústria
O saldo de quase 300 empregos na indústria em julho é visto por Marcos Canhada como parte de um ciclo maior. “Esse é um movimento comum em ciclos industriais, especialmente no segundo semestre, quando há maior aquecimento da economia”, explica.
Na visão de Erly, o resultado é consequência direta de investimentos bilionários que vêm sendo realizados na região. Ele cita a Toyota, que destinou R$ 11 bilhões à sua planta em Sorocaba, com aportes previstos até 2029. Esse investimento, segundo o dirigente, tem efeito multiplicador, gerando demanda para grandes fornecedores como ZF, JCB e Schaeffler, mas também para pequenas e médias indústrias locais.
Outro ponto crucial é a formação de mão de obra. “Quando uma indústria decide investir, ela olha a infraestrutura e a logística, mas principalmente a qualificação profissional. Sorocaba se destaca nisso. Temos duas escolas do Senai que absorvem praticamente 100% dos alunos formados, além da Fatec, colégios técnicos e universidades públicas e privadas que abastecem o mercado com profissionais qualificados”, acrescenta.
Comércio aquecido
Com saldo de 262 vagas, o comércio foi o segundo setor a puxar o resultado positivo. Para o economista Marcos Canhada, isso se deve ao calendário do varejo e às movimentações típicas do segundo semestre. “É um movimento ligado a fatores sazonais. Mesmo que datas como a Black Friday ainda estejam distantes, empresas já começam a se preparar e reforçar suas equipes”, comenta.
Embora menor do que a indústria em termos de estoque de empregos (54.571 vínculos contra 62.512), o comércio tem se consolidado como setor dinâmico, capaz de responder rapidamente a variações do consumo.
Serviços em retração
A contrapartida ao bom desempenho da indústria e do comércio veio dos serviços, que perderam 230 postos de trabalho formais em julho. Marcos Canhada aponta que o setor sofre mais com a informalidade. “Esse é um segmento sensível, que sofre com instabilidades contratuais. Muitas empresas substituem empregos formais por freelancers ou PJs. Isso nem sempre aparece como desemprego, mas reduz o saldo de vagas com carteira assinada”, explica.
Erly, por sua vez, relaciona a queda a fatores macroeconômicos nacionais. “O setor de serviços é afetado pelo cenário interno, marcado por juros altos, polarização política e crises como a do IOF e do INSS. Isso reduz o consumo e impacta o setor, que não depende tanto das exportações, mas sim da dinâmica do mercado interno.”
Desafios e cautela
Apesar do saldo positivo, o ritmo de geração de empregos em 2025 tem sido menor do que em 2024. Marcos Canhada atribui essa diferença à desaceleração da economia brasileira neste ano. “O crescimento das contratações está mais tímido. As empresas estão cautelosas, adiando expansões e investimentos. Isso freia a criação de novas vagas”, diz.
Outro fator de incerteza é a taxação dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. De acordo com Erly, mesmo com tarifas de até 50% em alguns itens, Sorocaba tem resistido graças a investimentos de longo prazo e à infraestrutura local. “É uma comemoração dupla: pelos resultados de hoje e pelo fato de que, mesmo com a taxação americana e a instabilidade do mercado nacional, seguimos avançando. Isso é fruto de sementes plantadas no passado”, conclui Erly.