A indústria brasileira de reciclagem, embora pouco conhecida, é extraordinariamente dinâmica e processa mais de 15 milhões de toneladas de materiais anualmente ao valor de 15 bilhões de dólares, de acordo com um novo levantamento realizado pela Mastersenso Consultoria Industrial. Esse “setor industrial oculto” desempenha papel crucial na economia, promovendo empregos, inovação tecnológica e sustentabilidade, ao revalorizar descartes como papel, plásticos, vidro, metais e têxteis. Apesar de menos estruturado em logística reversa do que outros países, o Brasil destaca-se pela quantidade e qualidade de muitos empreendimentos com grande potencial de crescimento.
A indústria da reciclagem abrange materiais pós-consumo, como os de residência, comércio, hotelaria e restauração, assim como descartes da produção (aparas de papel, aço, retalhos têxteis). Historicamente, o país desenvolveu uma habilidade notável para coleta e reciclagem de materiais, apoiada por ferros-velhos, centenas de milhares de catadores, pontos de coleta e circuitos setoriais regulamentados para garantir reaproveitamento de pneus, baterias, veículos, óleos lubrificantes, lâmpadas e embalagens de defensivos.
A criatividade e a tecnologia envolvidas impressionam: papel retornando para embalagens e polpa de celulose; plásticos viram novas garrafas, tintas e fibras têxteis; metais são reaproveitados em construções, peças e embalagens; vidros voltam a ser garrafas ou vidros planos; têxteis são transformados em carpetes, filtros ou novas roupas, além de produção de materiais de drenagem, pavimentação e tantos outros.
Apesar deste avanço, o Brasil ainda desperdiça um grande potencial em reciclagem de materiais, especialmente no pós-consumo. Anualmente cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos são geradas, sendo cerca de 50% a parcela de orgânicos, 30% recicláveis (metais, papel, plásticos, têxteis) e 20% de sobras e resíduos higiênicos. O avanço da coleta seletiva e sistemas MRFs (Material Recovery Facilities) poderão dobrar a produção do setor da reciclagem no futuro, gerando empregos e renda, a exemplo das agremiações de catadores.
A COP30 deve promover o crescimento da indústria da reciclagem, que depende de melhorias no sistema de coleta seletiva pública, no comportamento do consumidor quando descarta, na compra de produtos com conteúdo reciclado e nos incentivos fiscais e apoio ao empreendedorismo. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, e seus desdobramentos em Decretos de Logística Reversa, são pilares estruturantes que reforçam a responsabilidade compartilhada entre governo/sociedade/empresas.
Essas regulações impulsionam a indústria da reciclagem nacional ao adicionar obrigatoriedades ao voluntarismo praticado atualmente, incluindo metas de reciclagem e de conteúdo reciclado para a circularidade. O recente Decreto dos Plásticos, que instituiu meta de reciclagem de 50% em 2040, é um ótimo exemplo para agregação de valor aos materiais de embalagens descartados.