Os investimentos na organização os jogos ou na preparação das cidades para sediar os grandes eventos esportivos no Brasil tem gerado negócios em vários setores da economia ainda até o inicio das Olimpíadas, afirmam os especialistas. Na Entertainment Sports Management (ESM), empresa de consultorias e planejamento de projetos na área de marketing esportivo, o movimento de companhias que querem vincular suas marcas aos esportes por causa dos jogos de 2016 começa a crescer, diz Fernando Maroni, diretor de operações da ESM. “Já estamos desenvolvendo muitos projetos e fechando outros com empresas que já são nossos clientes e outras que estão chegando, a demanda é variada, vai desde o patrocínio de atletas a eventos e compra de ingressos corporativos para o evento”, diz, mantendo os números em sigilo.
Conforme Alexandre Rangel, sócio de consultoria e especialista em megaeventos da Ernst & Young (EY), o pico de contratação de bens e serviços, especialmente para o Comitê, será no segundo semestre. E a demanda pelos serviços da EY, que atua na área de auditoria e consultoria, tem aumentado significativamente, diz. A procura maior é de empresas estrangeiras dos mais diversos portes que querem disputar os contratos de fornecimento de soluções para os Jogos Olímpicos e precisam de apoio em questão societária e tributárias, por exemplo, para operar no Brasil, explica. “E esses fornecedores também estão contratando e a tendência é de aumento dos negócios em várias áreas. É a cadeia de valor dos jogos”, afirma, acrescentando que algumas companhias estão vindo em intenção de ficar no país.
E já tem muitas empresas usufruindo desse valor há algum tempo, como é o caso da New Forms, que desenvolve sistemas construtivos para o setor da construção e é especializada na produção de banheiro pré-fabricado, que entrega pronto e completo, com sistemas hidráulico, de iluminação e louças. A companhia, de origem italiana, iniciou as atividades no Brasil em 2012, por meio de uma oint venture com a brasileira TSE Automação. “Pesquisamos, vimos que o mercado hoteleiro está em forte desenvolvimento e decidimos procurar um sócio”, diz Roberto Storti, sócio da New Forms, fábrica erguida em Aparecida de Goiânia (GO), com investimento de R$8 milhões e capacidade para produzir 250 banheiros.
Grande parte do sucesso da carteira, além da redução de custos e de até quatro meses no prazo de construção dos empreendimentos que o banheiro pronto possibilita, é atribuída às encomendas da Odebrecht. A empresa conquistou contratos para fornecer perto de 2,1 mil banheiros para três hotéis que a empreiteira brasileira está construindo, entre eles o que abrigará os jornalistas durante as Olímpiadas no Rio. “Não são penas os jogos, O Brasil é um país cheio de oportunidades. Na Itália, não tem esse volume de encomendas de uma vez só”, diz Storti, acrescentando do que a New Forms já encerrou as atividades na Itália, onde foi fundada em 1986. “Lá as encomendas mal chegava, a 500 ou 600 unidades por ano. Aqui fizemos esse volume nos primeiros sete meses.” A New Forbs, que compra no país 90% dos materiais que utiliza na fabricação dos banheiros emprega diretamente 85 pessoas, estima mais que dobrar o faturamento este ano, para cerca de R$ 20 milhões, ante os R$ 9,5 milhões de 2014.
Outra empresa que diz que veio para ficar é a chinesa Honav, que pela terceira Olimpíada consecutiva participa do licenciamento de produtos com a marca do jogos. Nos do Rio, são 50 categorias de produtos, que englobam desde pins, mascotes de pelúcias, porta-retratos, chaveiros e souvenirs, brinquedos até almofadas, diz Bruno Correa, gerente de empresa, que abriu filial no Brasil há cerca de 18 meses e estima faturar R$ 100 milhões até o final dos jogos. “É uma meta mínima. A Honav veio por causa das Olimpíadas, mas já viu que tem muita oportunidade na área de licenciamento, pretende continuar aqui e será bastante competitiva porque vai oferecer produtos melhores com preços menores”, observa Correa.
Grande parte dos produtos, que podem alcançar um volume total dentre 4 milhões e 5 milhões de unidades, está sendo fabricada na China, em companhias certificadas pelos organizadores e que já foram fornecedoras para outros Jogos Olímpicos. Mas a Honav vai terceirizar para as indústrias brasileiras, afirma Correa, entre 5% e 10% da produção, especialmente as que levam a marca Abraça, símbolo de sustentabilidade do evento e os produtos devem ser confeccionados com insumos sustentáveis ou recicláveis ou ambos. “Já estamos buscando esses parceiros no mercado. A ideia é lançar essa linha no ano que vem, mais próximo dos jogos”, afirma o gerente da empresa chinesa, que também contratou os serviços de três escritórios brasileiros de design para auxiliar no desenvolvimento dos produtos, além de auditoria, escritório de contabilidade e companhias de logística para a colocação de toda a sua linha no varejo do país.
Assim como a New Forms ou as companhias que produzirão para a Honav, as oportunidades ao longo da cadeia são incontáveis, principalmente para as pequenas e médias empresas, como fornecedoras de bens e serviços para as grandes. O alto fluxo de investimentos do Rio de Janeiro nos últimos anos, em diversas áreas e nem sempre diretamente relacionados aos jogos com o setor de óleo e gás, gerou aos menos 430 oportunidades de negócios para micro e pequenas, segundo estudo feito pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae – RJ) a partir de 80 projetos de obras ou de atuação de grandes empresas no estado do Rio.
Entre os projetos está o que Sebrae denomina Encadeamento Produtivo Odebrecht, que está à frente sozinha ou por meio de consórcios em várias obras no Rio, no qual a entidade aproxima as pequenas empresas da construtora, há cerca de dois anos. São uma média de 20 empresas por programa e a Odebrecht tem várias obras em andamento, diz Renato Regazzi, gerente de Grande Empreendimentos do Sebrae/RJ. “Essas são parcerias extremamente eficientes: as pequenas ampliam o mercado de atuação e as grandes ganham em produtividade e em fornecedor qualificado”, afirma o executivo.