Sabe quando uma pessoa diz ser boa em “pegar as coisas no ar”? Com certeza ela não é tão efetiva nisso quanto a IBBX. A startup brasileira, localizada em Capivari (SP), criou uma tecnologia capaz de capturar ondas eletromagnéticas perdidas no ar e convertê-las em energia elétrica.
A trajetória dessa disrupção começou com o jovem Luis Fernando Destro, interessado por física e suas aplicações desde a pré-adolescência. Por volta dos 20 anos, enquanto trabalhava com automação industrial, ele se deparou com as interferências eletromagnéticas e quis entender melhor como elas funcionam e o que poderia ser feito para evitá-las.
Durante as pesquisas, ele teve a ideia de reutilizar a energia presente nas ondas eletromagnéticas causadoras das interferências, o que solucionaria o problema da poluição de sinal e ainda criaria uma alternativa de recarga energética. No início, ele enfrentou dificuldades para tirar a ideia do papel, mas persistiu e conseguiu identificar os principais problemas.
No meio desse processo, Luis formou uma sociedade com William Aloise, arquiteto interessado por física e pesquisa aplicada. Juntos, eles criaram um protótipo de sucesso, conseguiram patente nos Estados Unidos e depositaram o pedido de outras seis patentes em países diferentes e, finalmente, fundaram a IBBX em 2018.
Três anos depois, o sucesso da iniciativa foi testado e comprovado quando a empresa foi uma das vencedoras do Vallourec Open Brasil, competição que reúne startups de todo o país e é organizada pela Vallourec, empresa multinacional do setor siderúrgico. Já no ano seguinte, a sequência de destaques continuou com a conquista do prêmio Startups do Futuro, promovido pela Wylinka, uma ONG de incentivo à inovação de base científica e tecnológica, e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Achou pouco? Pois o reconhecimento não parou por aí. No final do ano passado, a IBBX marcou presença na 100 Startups to Watch 2022, lista elaborada pelas revistas Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Época Negócios; e pelas instituições de incentivo à inovação EloGroup e Innovc.
Como o procedimento funciona?
A tecnologia desenvolvida pela IBBX se chama energy harvesting e pode ser aplicada em múltiplos produtos. Basicamente, os dispositivos sintonizam nas ondas de baixa frequência – geradas por televisões, rádios, satélites, fornos micro-ondas e afins -, as capturam e armazenam em um circuito tanque. Em seguida, elas são transformadas em uma corrente elétrica que, por fim, é transferida à bateria.
Com essa inovação, a IBBX abre um leque de possibilidades. Por exemplo, aquela situação da bateria do celular acabar na rua e não ter onde carregar logo será coisa do passado. Mas a praticidade vai ter de esperar pra chegar até o consumidor. Atualmente, a startup trabalha em um protótipo de case carregador para celulares, que permitirá a recarga dos aparelhos a qualquer momento e lugar, sem depender do carregador padrão ou de tomadas.
E os ventos da mudança não param aí. Segundo Luis, há planos de implementar a energy harvesting durante a fabricação dos celulares, ou seja, os modelos mais novos já viriam da fábrica com a função de recarga sem fio.
“É um procedimento muito distinto, por exemplo, da indução eletromagnética, pois ela exige proximidade para a energia ser transferida. No caso dos nossos equipamentos, as transferências são feitas a longas distâncias”, destaca o cofundador.
Mas nem só de recarga sem fio vive a IBBX. A startup já oferece outra leva de artigos utilizadores da tecnologia. Um ótimo exemplo são os medidores wireless, dispositivos que monitoram em um raio de até 2 km o funcionamento de máquinas presentes nos mais diversos setores industriais, como os de saneamento, química, mineração, combustíveis, alimentício, entre outros.
Os medidores analisam diferentes grandezas – temperatura, pressão, vibração, vazão e afins – e enviam os dados coletados para um gateway. As informações são encaminhadas para o software da IBBX e apresentadas de maneira clara. Para fazer o processo, os dispositivos usam as ondas eletromagnéticas geradas pela própria indústria.
“Os medidores garantem também o avanço da quarta revolução industrial, porque oferecem um ecossistema de digitalização da planta”, acrescenta Destro.
Sustentabilidade e tecnologia ganham novos ares
Com tantos aspectos tecnológicos fantásticos, outro importante pilar do projeto merece destaque: a sustentabilidade. A captura e conversão de ondas eletromagnéticas em energia são, em termos gerais, um processo de reciclagem energética. Com isso, há a diminuição na produção e no descarte de baterias tradicionais, responsáveis por um amplo impacto negativo no meio ambiente.
De acordo com Luis, todo o projeto é baseado nos ideais de Environmental, Social and Governance (em português, Ambiental, Social e de Governança), princípios estabelecidos no Pacto Global apresentado em 2004 pela Organização das Nações Unidas (ONU).