Equipe técnica que elabora o estudo detalhou um resumo dos resultados preliminares, abordando o setor de transportes e combustíveis
A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), por meio da Subsecretaria de Energia e Mineração, realizou em 30 de setembro, o segundo encontro do planejamento energético do Estado de São Paulo. O evento apresentou resultados preliminares do Plano Paulista Decenal de Energia 2034 (PPDE 2034), que orienta as políticas energéticas para a próxima década, em alinhamento com as diretrizes do Plano Estadual de Energia 2050 (PEE 2050). O projeto é liderado pela subsecretária Marisa Barros e executado por pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), sob coordenação do professor Dorel Ramos, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas.
Realizado em formato híbrido, o segundo de três encontros do PPDE 2034 reuniu pesquisadores, associações setoriais, profissionais de concessionárias de energia, representantes do terceiro setor e integrantes do governo paulista. Durante o evento, foram apresentados gráficos e dados sobre consumo energético e projeções para bioenergia, combustíveis, gás natural e setor de transportes. Entre os destaques, estão o crescimento previsto da produção de biometano, a inclusão do gás natural veicular no transporte pesado e a maior participação do etanol em veículos leves, acompanhada do avanço da eletrificação. O programa de Hidrogênio de Baixo Carbono, em elaboração pela Semil, promove, de forma integrada, política de fomento à demanda, à produção, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à inovação do mercado de hidrogênio verde – matriz energética limpa, obtida a partir da eletrólise da água.
No início do encontro, a subsecretária de Energia e Mineração da Semil, Marisa Barros, destacou os desafios decorrentes das incertezas tecnológicas e econômicas desse tipo de estudo, que exigem maior esforço para garantir previsibilidade, especialmente no aspecto regulatório. “Por isso que é importante que todo o rito regulatório venha acompanhado da participação social e de uma análise de impactos regulatórios. Então é isso que a gente busca, enquanto formulador de políticas públicas, junto aos órgãos competentes e reguladores. E é dessa maneira que a gente vai ajustando juntos os rumos do plano sempre buscando o nosso objetivo final que é alcançar a neutralidade de carbono”, explicou Marisa.
Margareth Pavan, gerente de Transição Energética da Invest SP, agência paulista de promoção de investimentos e competitividade ligada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico do estado de São Paulo, destacou o potencial de São Paulo para a produção de combustível de aviação sustentável (SAF) a partir de biogás proveniente de resíduos da biomassa sucroenergética e de biometano. “Entre as análises que fizemos, observamos que o estado tem potencial e apresenta competitividade em diversas rotas, e identificamos o papel do aprimoramento da previsibilidade regulatória e o fortalecimento de mecanismos de incentivo econômico para atração de investimentos. Podemos ampliar a base produtiva de biocombustíveis e a valorização da economia circular considerando os resíduos como matéria-prima”, explicou a especialista.
Outro tema central do encontro foi o potencial de descarbonização do setor de transportes em São Paulo. Rafael Herrero Alonso, doutor em Engenharia Elétrica pela Poli-USP, apresentou o panorama atual da frota estadual, os principais desafios para torná-la mais limpa e as estratégias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). “Vimos aqui o aumento da demanda de energia elétrica no estado, e isso se dá justamente por conta de um esforço muito grande no setor de transporte, principalmente na sua eletrificação, ao deixar de usar combustíveis muito mais poluentes. Portanto, o consumo de eletricidade mais elevado, justamente por esse aspecto de substituição de derivados de petróleo, é um elemento do cenário de mitigação pois contribui com a redução global de emissões”, explicou o professor Dorel Ramos.
O Plano Paulista Decenal de Energia 2034 propõe um conjunto de soluções para a promoção da descarbonização, como o aumento do uso de biometano, biocombustíveis e eletrificação da frota, especialmente no transporte coletivo e de cargas. O encontro também abriu espaço para o diálogo com os participantes, promovendo uma escuta ativa e o compartilhamento de experiências sobre as ações em andamento. Está previsto mais um workshop, em novembro, com foco na apresentação dos resultados do plano e, também, a divulgação do balanço de emissões de GEE. Esse processo resultará na abertura de uma consulta pública.
Campanha Race to Zero
O Estado de São Paulo aderiu à campanha Race to Zero, iniciativa global da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). A campanha mobiliza atores não estatais — empresas, cidades, regiões, instituições financeiras e instituições de ensino — a assumir compromissos e ações imediatas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com o objetivo de atingir emissões líquidas zero até 2050.
Com essa adesão, São Paulo assumiu o compromisso de elaborar o Plano de Ação Climática e o Plano Estadual de Energia, com meta de alcançar a neutralidade de carbono até 2050, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas globais. Ambos compõem a estratégia climática paulista. O Plano Estadual de Energia 2050, de longo prazo e nível estratégico, alinhado com o Plano de Ação Climática e concluído em 2024, previu a elaboração de um plano tático, o Plano Paulista Decenal de Energia 2034, em elaboração, como instrumento para detalhar as ações no horizonte de 10 anos, de 2025 a 2034.
Enquanto o planejamento estratégico define a visão de longo prazo, os grandes objetivos e a direção da transição energética, o planejamento tático operacionaliza essa visão. Ele detalha metas, ações específicas, investimentos, tecnologias a serem implementadas e prazos, transformando a ambição em um roteiro concreto e mensurável.
O plano tático permite ajustes frente a mudanças tecnológicas, econômicas e geopolíticas de curto e médio prazo, sem comprometer a meta estratégica. Funciona como um mecanismo de correção de rota, garantindo que o planejamento de longo prazo permaneça relevante e eficaz em um cenário energético em constante evolução.
São Paulo foi o primeiro estado brasileiro a elaborar um plano de energia com meta de neutralidade de carbono até 2050. O Plano Estadual de Energia 2050 serve tanto como instrumento de planejamento do setor público quanto como referência de previsibilidade para o setor privado.